EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA: COMO OS ANOS 1960-1980 MOLDARAM OS DATACENTERS

Se o ENIAC era o brutamontes barulhento que abria as portas da computação, os anos 1960 a 1980 foram como o adolescente desajeitado que começa a crescer: ainda desengonçado, mas já mostrando potencial para virar o adulto sofisticado que conhecemos hoje. Estamos falando da era em que os datacenters deixaram de ser salas improvisadas cheias de válvulas fumegantes e viraram instalações profissionais, com discos girando como pratos de jantar e ar-condicionado virando o herói silencioso da história.
Dos Mainframes Gigantes para Algo Mais… Gerenciável
Lembra do System/360 da IBM, que mencionamos no artigo anterior? Ele não foi só um sucesso de vendas – foi o pai de todos os datacenters modernos. Lançado em 1964, o System/360 padronizou a computação como nunca antes: pela primeira vez, um sistema era “família” de verdade, com compatibilidade entre modelos baratos e caros (Wikipedia, 2007; ITForum, 2014). Mas o verdadeiro drama veio com os minicomputadores, que surgiram nos anos 1970 como uma rebelião contra os monstros gigantes da IBM.
A Digital Equipment Corporation (DEC), fundada em 1957 por Ken Olsen e Harlan Anderson, bagunçou o mercado com o PDP-8 em 1965. Esse “mini” mainframe custava só US$ 18.000 (contra os milhões dos IBMs) e ocupava uma mesa de escritório, não uma sala inteira (Computer History Museum, 2023; ETHW, s.d.). De repente, universidades e empresas menores podiam ter seu próprio “cérebro eletrônico” sem precisar de um orçamento de estado. O PDP-8 vendeu mais de 50.000 unidades até 1978, provando que tamanho não é documento – ou, no caso, que menor podia ser melhor (Computer History Museum, 2023).
Mas não pense que foi tudo paz e prosperidade. Esses minicomputadores exigiam datacenters mais “democráticos”, com salas menores, mas ainda cheias de desafios. A eletricidade? Um pesadelo. Um PDP-11, sucessor do PDP-8, consumia 1 kW por rack – menos que o ENIAC, mas o suficiente para fazer o eletricista da empresa suar frio (ETHW, s.d.).
Discos que Não Paravam de Girar: A Revolução do Armazenamento
Ah, os anos 1970… Quando o armazenamento deixou de ser uma montanha de cartões perfurados e virou algo mais confiável, mas ainda hilariamente problemático. O primeiro disco rígido moderno, o IBM 305 RAMAC de 1956, já era uma maravilha: 5 MB em 50 discos de 24 polegadas, pesando 1 tonelada (Wikipedia – IBM 305 RAMAC, 2006). Mas foi nos 60-80 que os discos rígidos viraram estrelas dos datacenters.
Em 1973, a IBM lançou o Winchester, o primeiro disco selado contra poeira – imagine: até então, uma partícula de poeira podia arranhar os pratos e destruir tudo (Computer History Museum, 2023). Esses discos de 8 polegadas ofereciam 30 MB por unidade, e os datacenters precisaram de salas climatizadas para mantê-los girando a 3.600 RPM sem drama. Era o fim da era dos tambores magnéticos e fitas de papel – bem-vindos aos HDs que, ironicamente, ainda usamos hoje, só que menores que um cartão de crédito.
Empresas como a Seagate (fundada em 1979) entraram na jogada com o ST-506, o primeiro disco rígido de 5 MB para PC, custando US$ 1.500. Datacenters da época viram seus armários se encherem de “winchesters” empilhados, criando o que os técnicos chamavam de “torres de Babel digitais” (Seagate History, 2024).
O Herói Invisível: Resfriamento e Climatização
Aqui entra o plot twist: o maior vilão dos datacenters dos anos 1960-1980 não eram os computadores, mas o calor que eles geravam. Válvulas e transistores (que substituíram as válvulas a partir de 1960) liberavam tanto calor que salas inteiras viravam saunas. A solução? Ar-condicionado industrial, que se tornou o “guarda-costas” essencial dos datacenters (ASHRAE History, 2022).
O padrão ASHRAE 90.1, precursor das normas modernas de eficiência energética, surgiu nos anos 1970 para lidar com isso. Datacenters precisavam manter temperaturas entre 18-27°C e umidade relativa de 40-60% para evitar condensação nos componentes (Data Center Knowledge, 2023). Imagine: enquanto os engenheiros lidavam com circuitos complexos, uma falha no AC podia derreter tudo em minutos. Não era raro ouvir histórias de “crises de verão” onde equipes improvisavam ventiladores gigantes para salvar os mainframes.
Os primeiros sistemas de resfriamento por água surgiram nos anos 1980, com chillers que circulavam água gelada pelos racks. Era o embrião do que hoje chamamos de “cooling líquido” – mas na época, era visto como engenharia de foguetes (Vertiv Evolution, 2024).
As Mulheres e os Homens por Trás da Revolução
Não foi só máquinas: os anos 1960-1980 viram profissionais de TI se profissionalizando. Cursos de “administração de datacenters” começaram a surgir em universidades, e associações como a Uptime Institute (fundada em 1993, mas com raízes nos 70) padronizaram o que era um “bom” CPD (Uptime Institute History, 2023).
Mulheres como Jean Jennings Bartik, que programou o ENIAC, continuaram influenciando: nos anos 70, elas projetavam fluxos de dados para minicomputadores, lutando contra o machismo da época (Women in Computing History, 2022).
Curiosidades que Vão Te Fazer Sorrir (ou Suspirar)
- O PDP-8 era chamado de “computador de bolso” – mas ainda pesava 18 kg e custava o equivalente a um carro popular (Computer History Museum, 2023)
- Em 1971, o primeiro microprocessador (Intel 4004) tinha só 2.300 transistores – contra os bilhões nos chips atuais (Intel History, 2024)
- Datacenters dos anos 1970 usavam “quartos limpos” para evitar poeira, com filtros HEPA que consumiam mais energia que os próprios computadores (ASHRAE, 2022)
- A crise do petróleo de 1973 quase parou a indústria de TI: sem energia barata, mainframes viraram luxos questionáveis (ITForum, 2014)
- Um disco Winchester de 1973 armazena 70 MB – o suficiente para um livro digital, mas ocupava o tamanho de uma geladeira (Seagate, 2024)
Lições de uma Era Desengonçada
Os anos 1960-1980 nos ensinaram que evolução tecnológica é menos sobre velocidade e mais sobre adaptação. Dos mainframes caros aos minicomputadores acessíveis, dos cartões perfurados aos discos selados, e do calor infernal ao resfriamento controlado – tudo isso moldou os datacenters resilientes que usamos hoje.
Na Consultimer Group, aplicamos essas lições históricas para criar infraestruturas que não só sobrevivem ao presente, mas prosperam no futuro. Porque, como os pioneiros descobriram, o segredo não está na máquina mais forte, mas na que se adapta melhor ao caos.
Quer saber como essas evoluções impactam sua operação atual? Fale conosco – estamos aqui para transformar história em estratégia.
FONTES
Wikipedia. (2007). IBM System/360 – Wikipédia, a enciclopédia livre.
ITForum. (2014). O mainframe aos 50: como o System/360 da IBM revolucionou a TI corporativa.
Computer History Museum. (2023). PDP-8 Minicomputer.
ETHW (Engineering and Technology History Wiki). (s.d.). Digital Equipment Corporation PDP Series.
Wikipedia. (2006). IBM 305 RAMAC – Wikipédia, a enciclopédia livre.
Seagate. (2024). History of Hard Drives.
ASHRAE. (2022). History of Data Center Cooling Standards.
Data Center Knowledge. (2023). Evolution of HVAC in Data Centers.
Vertiv. (2024). Liquid Cooling: From 1980s to Today.






