A ORIGEM DOS DATACENTERS: DOS MAINFRAMES AOS PRIMEIROS CPDS

Se você acha que trabalhar com tecnologia hoje é complicado, imagine ter que lidar com uma máquina de 30 toneladas que consumia mais energia que uma cidade pequena e fazia um barulho infernal.

Bem-vindos ao mundo dos primeiros computadores, onde tudo começou de forma bem mais dramática do que os elegantes datacenters de hoje.

O Monstro de Pensilvânia

Era fevereiro de 1946 quando o mundo conheceu o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer), na Universidade da Pensilvânia. Criado pelos engenheiros John Eckert e John Mauchly, esse “computador” – se é que podemos chamá-lo assim – era mais parecido com uma instalação industrial do que com qualquer coisa que reconheceríamos como tecnologia hoje (Wikipedia, 2005; Educação Pública CECIERJ, 2004).

O ENIAC era um verdadeiro colosso: pesava 30 toneladas, ocupava 170 metros quadrados (mais ou menos o tamanho de um ginásio esportivo), tinha 18.000 válvulas eletrônicas que viviam queimando, 70.000 resistores e consumia impressionantes 160 kW de energia (Wikipedia, 2005; Orientar Centro Educacional, 2021). Para ter uma ideia, isso é energia suficiente para abastecer cerca de 100 casas. E quando estava funcionando, a temperatura do ambiente chegava aos 49°C – imaginem trabalhar ali sem ar-condicionado!

Mas o mais fascinante era sua “programação”: não havia software como conhecemos hoje. Para cada nova tarefa, uma equipe de 80 pessoas (na maioria mulheres, que eram chamadas de “computadoras”) precisava reconectar milhares de fios, ajustar 6.000 interruptores e reconfigurar toda a máquina manualmente (Orientar Centro Educacional, 2021). Era como montar um quebra-cabeças gigante a cada operação.

O resultado? O ENIAC conseguia fazer 5.000 adições ou 357 multiplicações por segundo – velocidade mil vezes superior aos seus antecessores mecânicos (Wikipedia, 2005; Orientar Centro Educacional, 2021). Cálculos que levavam 12 horas para serem feitos manualmente eram resolvidos em espetaculares 30 segundos. Na época, isso era pura magia.

 

A Revolução do System/360

Se o ENIAC foi o “Frankenstein” da computação, o IBM System/360, lançado em 7 de abril de 1964, foi seu “príncipe encantado”. Projetado sob a liderança de Gene Amdahl, esse sistema revolucionou completamente a forma como pensávamos sobre computadores (Wikipedia, 2007; Museu Capixaba, 2024).

A IBM apostou pesado – e quando digo pesado, é US$ 5 bilhões pesado, o dobro do faturamento anual da empresa na época (ITForum, 2014). Era uma aposta que

poderia quebrar a companhia ou torná-la a rainha do pedaço. Felizmente, deu certo.

O System/360 foi batizado assim por cobrir “360 graus” de necessidades computacionais. Pela primeira vez na história, uma família de computadores oferecia compatibilidade total entre diferentes modelos (Museu Capixaba, 2024). Isso significa que um programa escrito para o modelo básico rodava perfeitamente no modelo mais avançado – algo revolucionário para a época.

O modelo mais simples, o System/360 Model 30, executava 34.500 instruções por segundo com memória de 8 a 64 KB. Já o Model 91 chegava a impressionantes 16,6 milhões de instruções por segundo com até 8 MB de memória – uma capacidade astronômica para os padrões da época (Museu Capixaba, 2024).

 

O Nascimento dos Primeiros Datacenters

Aqui entra uma história interessante. O primeiro datacenter reconhecido como tal surgiu em 1965, no Centro de Pesquisas da IBM em Poughkeepsie, Nova York – exatamente o local onde nasceu o System/360 (SitelBra, 2024). Não foi coincidência.

Poughkeepsie se tornou uma espécie de “Vale do Silício” dos anos 1960. Era lá que a IBM concentrava seus laboratórios mais avançados e onde foram desenvolvidos os sistemas que mudariam o mundo (Wikipedia – History of CP/CMS, 2006). A localização estratégica, próxima a Nova York mas com espaço suficiente para grandes instalações, fez de Poughkeepsie o berço natural dos primeiros datacenters.

Esses primeiros Centros de Processamento de Dados (CPDs) eram bem diferentes do que conhecemos hoje. Enormes salas climatizadas abrigavam mainframes que ocupavam o espaço de vários carros, com equipes de técnicos trabalhando 24 horas para manter tudo funcionando. O conceito de “alta disponibilidade” era bem relativo – se uma válvula queimasse (e elas queimavam frequentemente), todo o sistema parava.

 

As Mulheres que Programavam Gigantes

Uma das histórias mais fascinantes dessa época são as “computadoras humanas” – mulheres que programavam o ENIAC. Betty Snyder, Marlyn Wescoff, Ruth Lichterman, Betty Holberton, Fran Bilas e Kay McNulty foram as pioneiras da programação, embora raramente recebam o crédito que merecem (Wikipedia, 2005).

Elas desenvolveram os primeiros conceitos de debugging, otimização e até mesmo programação paralela. Quando descobriram que dividir equações complexas em partes menores acelerava o processamento, estavam criando os fundamentos da computação moderna. Todo esse conhecimento foi fundamental para o desenvolvimento dos primeiros datacenters.

 

Curiosidades que Vão Te Surpreender

· O termo “bug” em computação surgiu literalmente de um inseto que estava causando problemas em um computador Mark II em 1947

· O ENIAC custou cerca de US$ 400.000 na época – equivalente a mais de US$ 5 milhões hoje

· Uma única operação que hoje seu smartphone faz em nanossegundos levava 30 segundos no ENIAC

· O System/360 foi tão bem-sucedido que em 1971 a receita da IBM saltou de US$ 3,6 bilhões para US$ 8,3 bilhões

· Nos anos 1970, mais de 70% dos mainframes vendidos no mundo eram IBM (ITForum, 2014)

 

De Monstros a Milagres

Quando olhamos para trás, é impressionante como evoluímos. Do ENIAC de 30 toneladas aos datacenters modernos que processam milhões de transações por segundo, a jornada foi extraordinária. Mas uma coisa permanece: a necessidade de espaços dedicados, seguros e eficientes para abrigar nossa infraestrutura computacional.

Na Consultimer Group, entendemos que cada revolução tecnológica trouxe seus desafios únicos. Assim como os pioneiros de Poughkeepsie tiveram que inventar soluções para problemas nunca antes enfrentados, hoje continuamos essa tradição de inovação, adaptando datacenters para as demandas da era digital.

A história nos ensina que o que parece impossível hoje pode ser rotina amanhã. Quem diria que aqueles monstros barulhentos e consumidores de energia se transformariam nos elegantes datacenters atuais? E o que será que nossos datacenters de hoje parecerão daqui a 60 anos?

Quer entender como a evolução dos datacenters pode impactar sua empresa? A Consultimer Group combina o conhecimento histórico com as melhores práticas atuais para projetar a infraestrutura do futuro. Entre em contato conosco e descubra como podemos ajudar sua organização a escrever o próximo capítulo dessa fascinante história.

 

Fontes:

Wikipedia. (2005). ENIAC – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Educação Pública CECIERJ. (2004). O Surgimento dos Primeiros Computadores.

Orientar Centro Educacional. (2021). Conheça o primeiro computador do mundo.

Wikipedia. (2007). IBM System/360 – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Museu Capixaba. (2024). O computador IBM System/360 de 1964.

ITForum. (2014). O mainframe aos 50: como o System/360 da IBM revolucionou a TI corporativa.

SitelBra. (2024). Evolução Data Centers – Uma Jornada Rumo à Eficiência Digital.

Wikipedia. (2006). History of CP/CMS.